Thursday, May 24, 2007

CINE ECO EM ESTARREJA

"SEMANA DO AMBIENTE" EM ESTARREJA

Salto rápido a Estarreja, perto de Aveiro, onde o Município local leva a efeito uma Semana do Ambiente. Gosto desta zona de Portugal, passeio com frequência por Aveiro (já expliquei aqui), Avança (claro, o festival e os amigos a ele ligados), Ovar (hei-de falar da casa museu Júlio Dinis), Espinho (pois, também o Casino, mas toda a cidade). Estarreja e Cacia tem graves problemas ambientais, no primeiro caso o parque industrial, no segundo as indústrias da celulose que libertam um cheiro intolerável à passagem. No caso de Estarreja, a cidade vai procurando minimizar os problemas, resolvendo os casos mais agudos, e quer criar uma Eco cidade. Apontam-me muitas causas ganhas, oferecem-me um DVD sobre a BioRia, levam-me a ver o percurso pedonal no parque da cidade, falam-me da descida do Rio Antuã, mostram-se visivelmente interessados não só em mudar a imagem que se tem de Estarreja, como sobretudo transformar e melhorar a vida em Estarreja. Para isso imaginaram esta Semana do Ambiente que querem prolongar a partir daqui, todos os anos. Convidam-me, enquanto director do Cine Eco de Seia, a falar sobre Cinema e Ambiente e pedem-me para eu indicar um filme do Festival, para ser projectado. Avanço com o “Ainda Há Pastores”, de Jorge Pelicano, que, como eu calculava, é bem recebido.
O Cine Teatro de Estarreja tem capacidade para mais de 500 espectadores, marca a recuperação de uma sala antiga, tem uma boa programação de cinema e de outro tipo de espectáculos. Cinema comercial, bem escolhido, mais uma sessão de cinema alternativo por semana. Não se percebe, por vezes, qual o comercial, qual o alternativo. “O Bom Pastor”, “Cartas de Iwo Jima” ou “A Vida dos Outros”, por exemplo, estão programados para sessões ditas comerciais. Há ainda concertos com Jorge Palma e Vitorino, entre algumas outras propostas. Por aqui estamos bem.
Tomo um café na confeitaria Miranda ou no Café Brasília, na praça central, onde se encontra o belo edifício da Câmara (com uma exposição sobre ambiente, no hall de entrada). Nesta praça, de nome Francisco Barbosa, a limpeza e o cuidado são extremos. O mesmo acontece em toda a cidade. Quando subo a Av. Visconde de Salreu, depois de ter comprado na estação da CP bilhetes para o regresso a Lisboa, vou anotando os esplêndidos edifícios que se erguem de um lado e do outro. No século XIX deve ter sido aprazível local para endinheirados do Norte, que ali deixaram vestígios do seu gosto arquitectónico.
Muitas casas com escritos apontam que é difícil fixar as populações por aqueles sítios. Com Aveiro a 18 quilómetros, o Porto a meia hora e Lisboa a duas horas no Alfa, nem por ser litoral ali se fica de bom grado. A cidade, no entanto, oferece infra-estruturas suficientes. A Biblioteca Municipal é não só um belo edifício como uma aposta ganha. Vou lá dentro dar uma vista de olhos pelos jornais da terra, e vejo que tem frequência, tanto jovem como “sénior” (ah, esta terminologia!).
Mas o ritmo é dolente, saboreiam-se as passadas na rua, uma ou outra pessoa corre e é logo notada pela vizinhança (“Que tem ela, para ir assim a correr?”, - “Cortou-se, vai à farmácia!”). Aqui todos se conhecem (“-Então ainda aqui está Senhor Lauro António?”, perguntam-me, na manhã seguinte, no meio da rua, com evidente amizade. “Ontem estive no cinema a ouvi-lo falar!”). Passo pela mais antiga igreja do concelho, ao que me dizem, a Capela de Santo António, na esquina da praça central. Ninguém lá dentro, um paz que transborda do altar para as ruas, elas também silenciosas e desertas no cair da noite. No restaurante, ouve-se o telejornal. Somos únicos por ali, àquela hora, numa terça-feira normalíssima.
Depois da sessão no cinema, levam-me lá cima ao hotel, um Eurosol que merece ser referido. Aparentemente, não se percebe um hotel assim naquele local, com piscina, ténis e mini golf, jacuzzi, health club, SPA e um serviço muito agradável. Dizem-me que conta com 65 camas, alguma em vivendas. Passam-se férias por aqui. O motorista de táxi lembra um belga, “senhor de posses, que vinha todos os anos, e dividia as férias em dois períodos, um deles dedicado à caldeirada de enguias e à lampreia.”
“Coitado, já não aparece há uns anos. Deve ter morrido. Toca a todos, é assim mesmo.”
É assim mesmo, mas agradecido a enguias e lampreias que o ajudaram a levar desta boas recordações.

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